31 de agosto de 2013


Quando criei a coluna Gente que Pedala, me lembrei de um relato da biker Hila Rocha, onde ela contava que começou uma cicloviagem que iria até uma determinada cidade, mas que, estava tão bom e ela estava curtindo tanto, que foi parar na divisa de SC e RS, centenas de quilômetros além do planejado ! :)

Depois de muito tempo, consegui encontrá-la e solicitar-lhe o depoimento. Valeu à pena esperar!

Após ler a história ciclística da Hila, deu até vontade de comprar uma barraca, instalar uns alforjes, arrumar a bagagem, subir numa bike e começar a sentir o prazer de fazer viagens longas de cicloturismo! :)

Depoimento da  biker Hila Rocha


Ao retornar  hoje de um passeio de bicicleta para o sul da ilha, onde vi baleias-franca nadando  próximo a costa, tomei um caldo de cana delicioso, almocei um talharim com funghi, desfrutei da paisagem das praias do Campeche, Morro da Pedras, Armação, Pântano do sul, Balneário dos Açores, recebo um convite para compartilhar um pouco da minha vida, mais especificamente o que se refere ao uso da  bicicleta.

Tenho 57 anos, sou Farmacêutica, moro em Florianópolis e uso a bicicleta como principal meio de transporte, para trabalho, compras, passeios, viagens. Adotei este meio de locomoção há alguns anos quando percebi que era mais divertido e prazeroso, além de proporcionar autonomia, facilidade de acesso e colaborar para diminuir a poluição atmosférica. Participei de algumas competições de Mountain Bike e de desafios de longa distância mas prefiro usar a bicicleta de forma mais relaxante e mais integrada nas atividades diárias.


Pedal no Carnaval em 2013
Percebo que o uso da bicicleta  nos deixa mais sensíveis, mais observadores dos detalhes a nossa volta, tanto detalhes naturais como os pormenores da cidade , incluindo as pessoas e suas atitudes . Tudo fica mais próximo: a interação e  a receptividade são maiores. Por outro lado, a fragilidade de nossa condição de ciclista  nos faz mais solidários com os outros elementos vulneráveis na sociedade e na natureza. 

Devido a falta de condições favoráveis ao uso da bicicleta  em Florianópolis e região, há cerca de 10 anos passei a participar de atividades de cicloativismo através do  movimento Bicicletada e da Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis – Viaciclo.   Houve alguma melhora na estrutura cicloviária mas o crescimento da cidade e da frota automobilística supera as tímidas iniciativas favoráveis ao uso da bicicleta. Espero que as novas lideranças que estão surgindo tenham persistência para continuar a exigir mais investimento dos governantes e mais envolvimento da sociedade.

Frequentemente passo por situações de perigo, sou alvo de  comportamento agressivo dos condutores de veículos motorizados, mas há muitas pessoas educadas e gentis, o que compensa a grosseria dos demais. 

Mesmo em dias de chuva e frio eu uso a bicicleta, bastando  vestir roupas adequadas. Tenho uma bicicleta adaptada para trabalho e compras, com bagageiro e para-lama e outra para trajetos mais longos. Sempre tive sorte de trabalhar em locais com estrutura que permite tomar banho e guardar a bicicleta em local seguro. Atualmente meu local de trabalho é muito próximo da minha casa e mesmo no verão é só ir pedalando devagar para não precisar de banho. Esta é uma das razões que as pessoas alegam para não usar a bicicleta, alegam que chegam suados no trabalho, mas no inverno também não usam a bicicleta porque dizem que está muito frio.


Curtindo viagem de Cicloturismo
Quando criança morei em uma cidade pequena, Palhoça, onde meu pai usava bicicleta para trabalhar, passear, fazer compras. Era uma bicicleta enorme e eu com 7 anos tentava aprender a pedalar sozinha colocando a perna por dentro do quadro e me apoiando numa cerca de madeira até que, num dia memorável, consegui me soltar e sair pedalando, triunfante. Havia aprendido sozinha! Passei a andar sempre com bicicletas emprestadas, aproveitando cada chance que surgia.  Um dia, ainda criança fui visitar minha prima usando uma aro 20, numa distância de 12 km por ruas movimentadas e fiquei eufórica pela façanha. Foi minha primeira viagem de cicloturismo! 


Viagem para Urubici
As viagens seguinte foram bem mais longas, e aconteceram muitas décadas depois. Comecei a viajar de bicicleta indo para Angelina, próximo a Florianópolis, inicialmente em grupos organizados,  as vezes indo até nova Trento. Depois arrisquei ir até Urubici com amigos , acampando, numa viagem de 10 dias. Passei a fazer viagens sozinha nesta região, seguindo trajetos diversos, acampando ou ficando em pousadas.


Viagem pelo Chile
Quando dois amigos convidaram para uma viagem ao Uruguai, concordei imediatamente e tratei de comprar  barraca,  equipamento de viagem e roupas mais leves. Devido a problemas pessoais meus amigos tiveram que cancelar a viagem mas eu não desisti e fui sozinha, deixando amigos e filhos preocupados. A viagem foi maravilhosa, encontrei pessoas amigas, os problemas eram resolvidos rapidamente, foi tudo tão bom , achei tudo tão  fácil  que ao  voltar já fui planejando outra viagem para os Andes e Carretera Austral no chile. Depois fui para Portugal, Espanha, Cuba.

Pedalando em Portugal
 Em Santa Catarina já fiz várias viagens por diversas regiões, falta conhecer o oeste. Na temporada de baleias há três anos fui acampando pelas praias, depois fui até nos cânions. Foi lindo de manhã acordar,  abrir a barraca, armada no costão da praia do Rosa e avistar baleias na praia.


Nos Cânions na divisa SC/RS


Com a Bicicleta e a Barraca durante Cicloviagem,
na Praia do Rosa Norte, onde avistou baleias
Para conhecer a região do Contestado também levei a barraca e como é uma região com pouca estrutura para camping fiquei em algumas  escolas e até em campo de futebol. 

Quando pedalei nos Andes foi maravilhoso, paisagem deslumbrante, língua diferente, comida diferente. No sul do Chile foi o êxtase, natureza preservada, poucos carros, mares, rios , vulcões, glaciares. O desafio físico foi grande devido as condições das estradas de rípio , ao peso da bagagem, ao frio e a chuva, mas foi tudo muito gratificante, muito gostoso, a paisagem valia o esforço das subidas, a comida  recuperava a energia, o vinho ajudava a dormir e conheci muita gente simpática e agradável. 


Em Santa Isabel
Quando viajo sempre gosto de conhecer a cultura local: se é uma cidade  vou aos museus e sempre visito lugares históricos, em todo lugar converso com muita gente, pergunto tudo sobre costumes, história, aspectos naturais, quero  saber sobre a água e o lixo, se há reciclagem, se há poluição. As vezes  é triste a situação quanto a aspectos ecológicos, outras vezes é alentador, proporciona esperança de melhores condições e mais consciência ecológica. 

Outras viagens que fiz foram na região do litoral do Paraná, para onde fui pedalando desde Florianópolis por caminhos alternativos e depois pedalei um pouco pelo interior do Paraná.
A última viagem que fiz foi na serra da Mantiqueira, que divide São Paulo e Minas Gerais, um lugar lindo com altimetria considerável, estradas de terra, cidades pequenas, pessoas simples, comida boa, pousadas aconchegantes, frio gostoso, ar puro, água da mina.


Pedalando do Chile para a Argentina
Em cada viagem acontecem coisas que me deixam impressionada, coincidências que os esotéricos chamariam de sinais, outros diriam providência divina, eu não dou nome, só arregalo os olhos e aproveito a situação favorável, grata e feliz.  Quando estava começando a pedalar na Carretera Austral, no sul do Chile,  lembrei que iria precisar de uma chave de boca para colocar  um reforço no bagageiro.  Após alguns metros o câmbio trancou e precisei parar. Exatamente onde parei havia uma chave de boca caída na estrada! Inacreditável, assim como muitas outras coisas que me acontecem nestas viagens. As vezes parece que tudo vai dar errado mas é o errado que faz tudo dar certo. 


Caminho Primitivo na Espanha
Quando fui para Portugal optei por fazer os caminhos de Santiago de Compostela devido a facilidade de hospedagem com preço baixo. Foi uma ótima escolha, é uma maneira de conhecer Portugal e Espanha com um roteiro por caminhos tranquilos e sinalizados. Fiz o caminho português e depois fiz o caminho primitivo, retornando a Lisboa pelo litoral. Foi uma viagem maravilhosa que recomendo a quem quiser conhecer estes países. 


Na Ilha de Cuba
Uma viagem que considero especial foi na ilha de Cuba, um antigo projeto de viagem que eu tinha há anos para ver o que todos comentam e poucos conhecem de perto. Nesta viagem fiz o possível para fugir do esquema turístico tradicional, fazendo coisas ilegais, usando serviços não autorizados pelo governo em hospedagem e transporte e usando serviços destinados exclusivamente a cidadãos cubanos, enfim, saindo da redoma em que  os turistas são confinados. Foi uma experiência bem diferente e muito marcante. 

O que acho mais gostoso  é sair sem compromisso, ir até uma praia, tomar um caldo de cana, almoçar ou jantar num lugar sossegado, na beira da praia, sem hora de  voltar ou de  sair. Por isso geralmente saio sozinha, na hora que estou a fim, sem programação, assim como fiz hoje, voltando ao que falei no começo desta estória. Compromissos já temos no trabalho e  família, hora marcada é para médico e dentista. 

Gosto de conversar sobre viagens e sempre que alguém pede  eu tenho muita disposição em fornecer informação, indicar locais, pousadas, roteiros, até ir junto as vezes. Quero que todos tenham experiências tão boas como as que tive nas viagens que fiz. 


Palmas das Gaivotas - SC, com amigos
Aos amigos que  me influenciaram e me ensinaram sobre técnicas, equipamentos, roteiros e aos amigos que  me serviram de exemplo sou grata a todos. Se estas pessoas lerem este relato saberão que estou me referindo a elas, amigos que me iniciaram nos caminhos de terra, nos caminhos do cicloturismo. Um amigo especial não lerá isto, pois já morreu, refiro-me ao nosso amigo Valdo, que foi um grande exemplo pra mim. Espero morrer como ele, dormindo em uma barraca, e não de forma violenta como tem acontecido frequentemente aos que como eu se aventuram diariamente nas ruas tentando compartilhar espaço com veículos motorizados dirigidos por pessoas de mentalidade idem. 

Circuito Vale Europeu
Santiago de Compostela
Em Cuba


25 de agosto de 2013

Seguem alguns registros e depoimentos, diretamente do Canadá, das Garotas Ciclistas Guerreiras que inclusive ontem, sexta feira 23/08, participaram da prova de Contra-Relógio.




Ana Luísa Panini: Reconhecimento do percurso feito..mtas curvas, sobes e desces e veento mto ventoo por ser uma cidade do litoral...o asfalto eh novinho somente nesta parte remendado (foto abaixo)... mas eh mtoo show o percurso!

Guerreiras com os uniformes da Free Force, óculos LUC 
(via Cicles Hoffmann) e capacetes via Happy Bike
Ana Luísa Panini
Hoje (sexta feira 23/08) competimos o contra-relógio da última etapa da copa do mundo. Ficamos em 15 lugar, com 6 milésimos de diferença das canadenses. Foi uma boa prova porém eu não estava me sentindo muito bem...espero amanhã estar melhor e conseguir ficar entre as Top 10, porém o nível aqui é altíssimo...amanhã prova de estrada 83 km...estamos apenas estreando e ganhando experiencia... semana que vem ainda tem o Mundial que é nosso principal foco.
OBS: Obrigada a todos que nos desejaram uma boa sorte!

Garotas Guerreiras competindo na prova de Contra Relógio


Maria Pinheiro:
Quero agradecer a todos os meus Patrocinadores: Angel, Ferreira do Bar, Free Force, LUC, ADVIR, CICLES HOFFMANN, Pedala Floripa, Happy Bike e a todos os amigos que estão torcendo por mais esta etapa tão importante!!! Sem vocês nada disso seria possível... Em especial a minha Piloto Ana Luísa Panini, por mais esta vez se disponibilizar a me acompanhar novamente!!!

Ana Luísa Panini
Boa noite mundo!!
Amanhã (19/08/2013) estarei embarcando para a minha primeira competição internacional, juntamente com a minha parceira Maria Pinheiro e a Delegação Brasileira de Paraciclismo. Quero agradecer a todos os meus amigos, conhecidos, e até mesmo desconhecidos que me deixaram algum recadinho desejando boa sorte...obrigadaaa!!!!
Quero agradecer também a Sola Esthetics Hair, Academia Planeta Fisico, Agropanini, Happy Bike Bicicletas, Free Force Brasil, muito obrigada pelo apoio de vocês, com certeza vocês tornaram tudo isso possível de alguma forma. Obrigada a minha família que sempre me apoia e aos meus amigos pela força e torcida!!!!


https://www.facebook.com/LucM2r

https://www.facebook.com/freeforcebrasil?fref=ts







17 de agosto de 2013


Uma pessoa de bem com a vida e que contagia todos ao seu redor! Essa é minha definição para o biker Luiz Pereira Huli-Huli, um camarada Sangue Bom e que está sempre de bem com a vida! Você poderá comprovar o que digo observando as fotos que estão no depoimento dele.

Com mais de 50 anos de história ciclística, o depoimento dele é Show de Bike!

 Espero que curtam, tanto quanto eu.

CicloAbraços, Biker

Primeira prova do Audax.
Fotógrafo: Jonathan Junge
Falar sobre a minha interação com a bicicleta não é uma tarefa fácil. Afinal, são nada  menos que cinquenta anos me movendo sobre uma delas. Várias. Dos primeiros passeios, no bairro, a viagens perambulantes, pelo mundo, não foi uma trajetória muito serena, com alguns ossos quebrados e as escoriações de praxe. Mas, nada grave. Tanto que continuo pedalando, até hoje. Apenas a falta de juízo é que continua perturbando um pouco.

No natal de 1963, quando eu tinha seis anos de alegria, ganhei uma Monark Jubileu de Ouro, aro 22. Uma réplica impecável do tamanho adulto. Freio de pé, paralamas, bagageiro, punho, sinetinha e refletivos. O quadro era vinho e os badulaques amarelo ouro. Foi, sem dúvida, meu primeiro encantamento na Vida. 

Com a Monark, desde muito cedo, acompanhando meu pai, na sua Gallo aro 28, ultrapassei os limites do Município, em percursos para visita a parentes, moradores de São José, quando sempre escolhíamos rotas variadas, que passavam por Capoeiras, Campinas, Roçado, Barreiros, e por aí a fora. Já por volta de doze anos de idade, ganhava a Ilha, em jornadas solitárias exploratórias, que iam até Sambaqui, Campeche, e outras praias, que conhecia pedalando, pelos caminhos nem sempre asfaltados da minha cidade provinciana, à época. 


Biker Pereira sempre de bem com a vida
Anos mais tarde, já como trabalhador e estudante da UFSC, a Caloi 10. Comprei uma, para me dar de presente de aniversário. Na festa, apareceu um camarada, que ainda corria de bicicleta, na Equipe do BESC, e me convidou para ir até Imbituba, pedalando, para assistirmos uma prova, que ele não participaria. Foi a primeira vez na vida, que meu cu pareceu um hibisco, ao fim de uma jornada de 110 KM, usando bermuda de praia e kichute. 

Minha rotina de transporte era o trajeto entre o Estádio Orlando Scarpelli e o Campus Universitário, passando pela recém inaugurada ciclovia da Beira Mar, e pela saudosa e monumentosa ponte Hercílio Luz. Trabalhava no Campus até a uma da madrugada, e me largava, cantarolando, até o Estreitos Unidos. Numa bela noite enluarada, uma matilha de cães, acompanhantes de uma cadelinha desvairada, resolveu me recepcionar no pé do morro do Viaduto, no lado continental. Um cachorro atravessou meu caminho, fazendo me capotar, aterrissando com algumas escoriações, e costelas em péssimo estado de conservação. Tive que arrastar a Bici até a casa, chegando em estado lastimável, para desespero da minha Mãe.

Em 1983, um passeio que eu considero meu primeiro Audax 203 KM. Minha namorada era de São Francisco do Sul, e eu resolvi pedir a mão em noivado, pedalando até lá. 


Viagem ao Paraguai, pra dar início à uma jornada cicloturística. Fotógrafo: Fernando Angeoletto
Saí do Estreito às cinco e meia da manhã, acompanhado do meu cunhado e do saudoso Hans Fisher, que me ‘puxaram’ até Itajaí. Naquela época, minha Caloi já havia sido incrementada, com rodas de alumínio, pneu tubular, equipos de movimento Campanhollo e guidon e canotes de alumínio. Eu ia comprando peças, na medida em que estas apareciam no mercado local, ao mesmo tempo em que aumenta as distâncias dos meus passeios de relaxamento e lazer.

Mas foi lá pelo ano de 2004, que conheci e me enturmei com uma Galera de estudantes da UFSC, a partir de uma expedição realizada por um grupo de sete deles, que foram me visitar, num sítio que possuíamos, lá nos sertões da beiradinha, muito próximo do quase nada. A partir de lá, fizemos uma travessia, por estradas quase intransitáveis, conhecendo cachoeiras, vales e montanhas, de uma beleza contagiante. 


Cicloturismo com a Caminhos do Sertão
Esta experiência de organizar passeios nos levou a fundar uma operadora de Cicloturismo (Caminhos do Sertão), atuando em toda a Região Sul, na condução de grupos de viajantes, ou na elaboração e consolidação de roteiros de cicloturismo, no Estado de Santa Catarina. Mas, para continuar me divertindo, com minha bicicleta, resolvi participar de umas festas de confraternização ciclística, que é o Audax. Agora, de posse e companhia de uma velha Peugeot, adquirida de um vizinho que retornou para a Europa, encarei a primeira prova proposta, aqui em Floripa, e de lá pra cá venho conhecendo muitos lugares e pessoas, fazendo novos amigos e contágios a cada nova brincadeira. 


Pereira e os 3 mosqueteiros locais
De festa em festa, cheguei a participar da confraternização mundial, em Paris, em 2011, juntando-me a outros três mosqueteiros locais, e mais 5.300 do resto do Planeta.

Algumas complicações gastrointestinais me impediram de completar a prova, mas não de perder a festa, na sua totalidade.


E, nas horas de folga, uma viagem ou outra. Dia desses, fomos pra Califórnia, para comemorar os 20 anos do movimento Massa Crítica. Pude experimentar a sensação de viajar com segurança e cidadania, numa viagem de seis dias, a partir de San Francisco.

Movimento Massa Crítica 20 anos - São Francisco
No retorno, uma comemoração gigantesca, com cerca de 8.000 pessoas, que se juntaram, numa sexta feira, no final do expediente, para pedalar pela cidade. Nunca pensei que um dia fosse participar da construção de um engarrafamento tão explosivo e exclusivo, parando a cidade quase por completo. No domingo, para encerrar, uma pedalada festiva, atravessando, novamente, a Cidade. Só que, desta vez, pelado. :)


WNBR - Peladada Floripa - 2012 - Rindo até em situações complicadas :)
Nas horas de dor, as Ghost Bikes. Pra minha tristeza maior, participei da colocação de mais uma, no dia da minha aposentadoria. Mais uma flor universitária que deixou de nos contagiar com seu perfume e beleza. Infelizmente, a falta de estrutura viária convidativa vai expulsando as pessoas da Rua. Os seres humanos não têm vez nem espaço, para poder ir e vir com dignidade e segurança. Por isso, precisamos estar sempre atentos e articulados, exigindo das autoridades o atendimento de nossas queixas, para podermos nos mover com saúde e alegria.


Momento triste - Instalação de Ghost Bike
Momento triste - Instalação de Ghost Bike
Mas, enquanto as coisas ainda não são totalmente do jeito que gostaríamos que fossem, continuamos a viajar, fazer nossas provas de turismo de longa distância, levar a esposa para passear, na bicicleta tandem, ou mesmo no deslocamento diário, principalmente agora que os compromissos diminuíram de intensidade. Com a eliminação do compromisso com o relógio cronometrológico, passo a poder desfrutar com mais serenidade e suavidade os novos momentos e envolvimentos que a Vida me apresenta. E, daqui pra frente, ainda tenho muito caminho a percorrer e desbravar, apenas para tentar descobrir aonde fica o tal logo ali.

Huli Huli

Luiz Pereira

13 de agosto de 2013

Certa noite (quarta feira, 07/08), acessando o Facebook, me deparei com a publicação inicial e o comentário abaixo.

A notícia inicial, relatando o fim

Biker 1Caminhava hoje à tarde por volta da cinco, bem no Koxixo's, com minha mulher e me deparei com um indivíduo no chão e uma bicicleta caída. Fiquei preocupado com o ciclista. Chegando perto descobri que era uma bicicleta roubada e ele estava deitado sob a mira da pistola de um policial civil. Estava faltando isso para dar tranquilidade a quem pedala pela Beira Mar.

 
Um comentário, resumindo o fato

Biker 2: O dono da bike é meu namorado e o capacete dele estava junto com a bicicleta na hora do roubo. A sorte foi que um policial de folga estava passando pela rua do cemitério, observou atitude suspeita de uma pessoa e procurou saber de quem era a bicicleta. Encontrou o dono e saíram em perseguição minutos após a ação e com sorte pegaram o cara que foi encaminhado a 1a DP, algemado.

No dia seguinte, veio a ...

 
História completa

Sou professor na Escola Anabá, localizada na rua do cemitério do Itacorubi, utilizo a bicicleta como meio de transporte possuo a mesma bike há 15 anos uma Sundown Rain Drop, a qual periodicamente faço revisões e à medida do possível troco algumas peças para melhorar minha segurança na pedalada (aro duplo, suspensão). 

Chego de manhã na escola, deixo no bicicletário que fica na frente do portão (dentro do estabelecimento) e este permanece fechado durante toda manhã, portanto não passo cadeado. A única coisa que fazia era prender com cadeado meu capacete junto ao quadro da bicicleta para que eu nao precise ficar carregando o capacete pra lá e pra cá. Na parte da tarde o portão para carros da escola fica aberto e normalmente eu tiro a bicicleta de lá, boto em lugar fora da visão de quem passa na rua e passo o cadeado. 

Nessa última quarta-feira (dia 07/08) esqueci de tirar a bike da frente do portão e por volta das 17h estava na quadra dando aula quando vieram me perguntar se eu havia ido de bicicleta, respondi afirmativamente e me disseram então que um homem viu um cara suspeito levando a bicicleta dali. A minha reação foi de sair correndo pela rua para ver se o alcançava, porém o homem me alertou que o suspeito havia saído com a bicicleta fazia 5min e que eu não conseguiria alcançar. Falou pra eu entrar no carro dele que tinha visto a direção que o suspeito havia tomado, fomos até o João Paulo quando o homem se identificou, falou que era Policial, mas estava de folga, não encontramos no bairro João Paulo e seguimos pela Beira-Mar prestando atenção na ciclovia, foi então que avistei meu capacete na cabeça de outra pessoa e reconheci minha bicicleta (um pouco depois do Angeloni, na ciclovia). Foi então que paramos no Koxixos e esperamos ele passar, o ladrão, próximo de onde estávamos esperando parou para ajeitar o capacete, foi a deixa para o abordarmos. O Policial jogou ele rapidamente no chão e apontou a arma pra ele, o suspeito em nenhum momento ofereceu resistência ficou ali deitado com as mãos para trás até chegar a viatura, que demorou uns 15min. Enquanto passavam pessoas caminhando, uma pessoa parou e perguntou ao policial se havia roubado a bike e perguntou se podia bater uma foto para o grupo Bicicletada Floripa o policial autorizou. 

Fomos a 5a DP na Trindade onde fizemos B.O. e depois para a Central no Centro, próximo ao Ceisa Center. O ladrão se chama Leonardo de Oliveira, 20 anos, natural de Palmitos/SC. Já havia sido apreendido quando era menor de idade por tráfico de drogas.

Felizmente minha história de furto teve um final feliz, o PM se mostrou muito disposto e preparado. Não é qualquer um que no seu dia de folga se dispõe como ele fez. Quero agradecer o Soldado Manoel Moreira de Souza que se mostrou um ótimo policial e ficou de delegacia em delegacia por 3h em seu dia de folga por furto de uma bicicleta.

Não consigo pensar o que faria sem minha bicicleta hoje em dia, pois a utilizo diariamente.

Este é meu depoimento.

Obrigado,
Gabriel Junckes da Silva Mattos

10 de agosto de 2013



Você teria coragem de abandonar sua magrela e desaparecer no mapa, após brigar com seus familiares e até com sua namorada? Acompanhe esta e outras aventuras logo abaixo...

Para ler a parte inicial deste depoimento, clique aqui.

Aos 22 anos ingressei na faculdade de história da UNIOESTE, há quarenta quilômetros de casa, curso matutino, tinha vezes que ia de carona, outras vezes ia uma vez por semana e ficava alojado na casa de amigos e outras tantas vezes, ia de bicicleta com o tronco deitado sobre o guidão carneiro da speed onde ia um livro aberto que conseguia ler nos trechos retos e planos. E o percurso era todo plano nos primeiros 25 km e até bastante reto, boa parte com bom acostamento, depois de Nova Santa Rosa é que tinha umas ondulações e alguns trechos sinuosos, além disso, tinha pouco fluxo de veículos, o que me dava certa segurança. 



Caloi 10
Foi nesta época que comecei a praticar o ciclismo veicular na estrada, pedalando sempre do lado direito da pista, na maior velocidade possível e sinalizando algumas das minhas intenções. Chegando em Marechal Cândido Rondon me espantei ao ver toda a extensão da avenida Maripá com ciclovias dos dois lados da pista, muito apropriadas, mas era comum os motoristas estacionarem ao lado do meio fio para descida dos passageiros que abriam as portas sobre a ciclovia sem olhar, de modo que bati em várias portas que se projetavam do nada sobre a ciclovia. Cursei três anos e meio de faculdade e tive que parar por problemas financeiros, pois a região praticamente não tinha oferta de trabalho e  cada vez mais eu tinha que ir mais longe para trabalhar até que chegou o ponto em que não pude mais estudar. Passei tempo desempregado, sem estudar e com bicicletas muito ruins, foi o tempo que vivi na era das trevas...

Um dia, briguei com meus irmãos e demais familiares, me separei de uma relação de quase dez anos com minha namorada, me deu na louca e resolvi desaparecer no mapa, deixando a bicicleta destrancada na rua para que alguém pudesse pegá-la e fazer bom uso dela. 


Alto da Costeira do Pirajubaé
Fiquei vagando pelo mundo de carona e com 28 anos cheguei à Florianópolis de carona, sem dinheiro, sem trabalho e sem conhecer ninguém, me aventurei pela cidade, morei em vários bairros, trabalhei com várias coisas, e por fim, fui morar na Costeira do Pirajubaé, bem no alto do morro, onde consegui uma bicicleta velha que usava para ir namorar no Campeche e às vezes para trabalhar na Lagoa... resolvi refazer vestibular para História, ingressei na UFSC e ganhei uma bike alemã que está no porão de casa até hoje de um colega de trabalho que estava de mudança para São Paulo, era um quadro rústico dos primeiros modelos de quadro praiano sem marchas e fui morar na Serrinha, onde ainda moro.

Comecei praticar capoeira e um dia quebrei o talo, fiquei engessado por um tempo, meus amigos Dego e Gabriela normalmente me pegavam em casa de carro e me levavam para rodas de capoeira, onde ficava batendo palmas ou tocando instrumentos. Certo dia, tinha um compromisso urgente na UFSC e não achei o telefone de um táxi, desci o morro de bike com a perna engessada e tudo. Quando tirei o gesso, comecei a fazer fisioterapia, mas como fui me empolgando com a bicicleta e pude abandonar rapidamente a fisioterapia e voltar a jogar capoeira em apenas um mês, sendo que o ideal seriam seis meses, mas me sentia bem e fortificado como ainda me sinto atualmente.

Fui mesclando bicicletas até que cheguei numa Caloi 100, bicicleta que doei recentemente, com ela conseguia fazer facilmente o Morro da Cruz, ir dar aulas no Pachecos ou nos Ingleses, fiz algumas viagens com ela, sendo que numa delas acompanhei minha irmã Márcia em sua blitz... mas em 2011 fui atropelado seis vezes no mesmo ano, na maioria das vezes na SC 405, todas as vezes em baixa velocidade ou parado, com pequenos ferimentos, mas isso me assustou bastante, de modo que eu precisava encontrar soluções mais eficientes para minha segurança e encontrei duas boas soluções: a primeira pedalar mais e mais reavaliando minha experiência de ciclista no trânsito, criticando todas os meus movimentos e também dos demais agentes do trânsito; a outra forma foi começar a participar, mesmo que timidamente, do cicloativismo.


Anastácia, minha primeira “aluna”
em rotas por Florianópolis
Foi também em de 2011 que comecei a ensinar amigos da capoeira a usarem a bicicleta para se deslocarem de uma roda para outra, minha primeira 'protegida' foi a Anastácia Schroeder, que levava aos domingos do Pantanal para ensaios no Campeche ou no Rio Tavares, logo apareceram mais e mais interessados nestes bondes de bicicleta para a capoeira, quando percebi era comum ter cinco ou seis pessoas pedalando comigo para diversos eventos de capoeira, principalmente pelo sul da ilha.

Quando comecei a frequentar a Bicicletada Floripa, lá me disseram que já existia esta modalidade de personal biker, que se chamava Bike Anjo e imediatamente me tornei adepto e militante do movimento que é um ótimo projeto de educação informal, ajudando pessoas inexperientes a usarem a bicicleta como o meio de transporte principal. Nesta época, recuperei uma speed Monark dez do lixo, que é atualmente minha principal bicicleta, uso-a quase todos os dias, viajo, reboco outras bicicletas e ainda faço compras grandes com ela.


Bicicletada Floripa em janeiro de 2013.
Hoje deixo de fazer várias coisas que considero importantes para participar de passeios da Massa Crítica de São José, da Bicicletada Floripa, do Pedalua dos grandes amigos Eduardo Green e Pereira, viajar com amigos em trips malucas de cicloaventura, ou ainda para fazer os mais diversos tipos de atendimentos Bike Anjo, atividades nas quais me sinto plenamente realizado e muito feliz por fazer muitos amigos, ser compreendido nos meus pedais e de quebra ainda tratar a diabetes tipo um, que me acompanha há muito tempo, mas com bons pedais e com bons amigos consigo ter uma qualidade de vida comparada à de uma pessoa saudável.


Puxando o Bonde da Cyclophonica, uma orquestra sobre bicicletas
dobráveis no alto das Paineiras do Rio de Janeiro. Em junho de 2011.

No contexto de tantas experiências ciclísticas, hoje digo que meus pedais representam muito da minha vida e que sem eles não sei se poderia continuar vivendo e isso se expressa tão perfeitamente em mim, que costumo dizer que seu eu morrer pedalando, morrerei feliz.


Sobre a ponte Colombo Machado Sales durante o Audax em abril 2013 
(fui como observador independente)


Conheci o biker Mario Sergio Fregolão, mais conhecido apenas por Fregolão em uma manifestação ciclística pela preservação da vida dos ciclistas, após um ter falecido, numa instalação de uma Ghost Bike.

Pude perceber que ele é uma pessoa muito prestativa, amiga, comunicativa e que "põe a mão na massa"! Lendo o depoimento dele, compreendi o porquê dele ser assim, além de conhecer um pouco de suas muitas aventuras vividas!

Saiba mais sobre esta aventureira história ciclística Show de Bike publicada na coluna Gente que Pedala.

CicloAbraços, Biker


Morro da Igreja em janeiro de 2013
MINHA VIDA SOBRE PEDAIS

Fui criado em um sítio funcional da Igreja Católica que ficava ao lado de um seminário (onde meu pai era uma espécie de faz-de-tudo) em Palotina, uma pequena cidade do extremo oeste paranaense. Este detalhe foi fundamental no desenvolvimento das minhas atividades ciclísticas, pois havia muito espaço para eu, meus irmãos e muitos amigos brincarmos à vontade, com quadras de esportes, campos de futebol, pomares, hortas, bosques, pastos e um grande graneleiro que era usado para secar e estocar a produção agrícola das várias fazendas de monocultura que esta instituição mantinha na região.


No pátio deste graneleiro, aprendi a pedalar por volta dos seis, sete anos de idade, e isso era praticamente uma questão de honra entre as crianças das vizinhanças, ainda mais, porque normalmente não tínhamos bicicletas, normalmente precisávamos fazer amizade com pessoas que tinham e levá-las para passear lá em casa. No final das contas, aprendi a pedalar mesmo foi numa enorme barra circular que meu pai conseguiu na troca de algum serviço extra que ele deixava em casa nos dias em que ia vistoriar as fazendas com a toyota do seminário e estes dias eram uma festa para mim... e com as pernas miúdas e muito finas, atravessava o círculo no centro do quadro, o que reduzia muito a mobilidade e ainda me viciava a dominar o equilíbrio só de um lado do corpo, a bicicleta tinha a relação simples muito pesada e o freio contra pedal, mas na no ânsia de aprender fiz vários experimentos, eu e meu irmão mais velho, o Mauro guiávamos a bicicleta em dois, cada um com os dois pés sobre um pedal e compartilhando o guidão. Quando um corpo subia, o outro descia e isso nos adestrava muito no comando da velha barra circular.



Barra Circular antiga
Logo logo eu estava enfiado em todas as malocas da região, e a bicicleta era uma das nossas grandes diversões, quando chovia, descíamos uma rua do loteamento Dallas até o rio Santa Fé, era muito louco, pois a brincadeira consistia numa espécie de concurso em que ganhava a bicicleta que descesse a ladeira no barro da estrada nova em maior número de pessoas, deste modo, íamos em até dez crianças em cima de uma bicicleta pega escondida de algum de nossos pais. Ia gente no guidão, uns três ou quatro no top tube, um em cada pedal, mais quantos pudessem acomodar no selim e no bagageiro. Em pouco tempo, destruíamos praticamente qualquer bike, e aí para evitar apanhar em casa, já começávamos a meter a mão na massa, fazendo todo tipo de reparo e de gambiarra para solucionar os mais diversos estragos que fazíamos.

Tombos, arranhões, hematomas e machucados até mesmo mais sérios eram muito comuns, mas não reduzia em nada a magia que era brincar de bicicleta.

Lembro-me que por volta dos oito anos, sob a influência de um vizinho muito empolgado, usamos o espaço entre as setenta grevíleas para fazer uma pista com muitas rampas, algo parecido como bicicross ou bmx, mas fazíamos com as mais variadas bicicletas, porque esta pista caseira atraía também a molecada amiga de praticamente toda a cidade, e lá nos jogávamos com barras fortes, barra circulares, monaretas, berlinetas, cecis, bmx's, bicicletas monster, bicicletas quebradas, estragadas e enferrujadas de todos os estilos. Foi quando começaram a surgir as caloi cross, nosso sonho de consumo. 

Em meados de 1989, entramos em contato com a prefeitura e fizemos uma pista de bicicross em um terreno baldio da cidade, onde meus amigos Joclito Biffi e Edson Moraes promoveram um campeonato local, mas com o tempo, a brincadeira das crianças cedeu o espaço e a mão de obra pra os playboys praticarem motociclismo, o que acabou com a pista.

Um pouco antes de completar onze anos meu pai morreu e minha mãe, que era professora e estava desempregada, não tinha como bancar nossa vida, mas o seminário foi legal permitindo que continuássemos morando lá por mais alguns anos. Mas me lancei na vida profissional nesta mesma idade, já na quinta série passei estudar à noite e trabalhei por um tempo de vendedor de pastéis da vizinha, depois por uns quinze dias arrisquei ser metalúrgico, e aí surgiu um projeto na cidade chamado guarda mirim, que tinha por objetivo colocar a rapaziada pobre e desorientada no mercado de trabalho, como aprendizes ou auxiliares com salários muito baixos e fui eu e meus dois irmãos mais velhos trabalhar de office boys neste projeto. Deste modo fui office boy do Banco Itaú, entregador de jornais e por fim me estabilizei no antigo emprego do Mauro, como boy de um pequeno escritório de advocacia e imobiliária, onde trabalhei até quase os dezoito anos, correndo todos os dias, a cidade toda para entregar notificações jurídicas, cobranças, fazer compras domésticas para a mulher do patrão, para a secretária...

Durante este período meu rendimento era de meio salário mínimo e praticamente passava fome pelo ganho, mas a grande vantagem é que tinha um bicicleta o dia inteiro só para mim. Na verdade só não passava fome porque durante os dias de semana eu ia almoçar no CEMIC, uma espécie de orfanato que disponibilizava almoço grátis para a guarda mirim. Ao lado do CEMIC estavam construindo um estádio de futebol que foi embargado ainda na terraplanagem, e ficou um buraco enorme no local onde, a galera da bike almoça rapidinho e se jogava buraco à baixo numa rampa que chegava à noventa graus em relação ao solo, descíamos na toda e depois pegávamos bastante embalo para subirmos de novo. O pior é que fazíamos isso com as bicicletas funcionais, lembro-me de ter batido uma vez que descia numa cargueira e encontrei uma barra forte subindo, foi hospital na certa.

Às vezes, nos finais de semana, pegava esta bicicleta do trabalho escondido e dava uns rolês tipo cicloturismo, ia para as cidades vizinhas à vinte ou trinta quilômetros de casa. Maripá e Francisco Alves eram meus destinos prediletos, por terem o trecho mais plano e porque tinham recompensas que eu achava muito interessantes. Em Maripá havia uma piscina pública com água de fontes naturais e em Francisco Alves a topografia mudava totalmente e a argila que constitui o solo palotinense se transformava em areia branca, acho que por conta da influência do acúmulo de depósitos dos grandes rios do pantanal matogrossense que desembocava no Rio Paraná, ou seja, mudava totalmente a característica do pedalar.


Caloi Cruiser vermelha
Lá pelos meus catorze ou quinze anos, lembro que eu e meus irmãos mais velhos, o Marcos e o Mauro fizemos uma vaquinha e compramos uma Caloi Cruiser vermelha, em não sei quantas parcelas numa loja HM, e era uma disputa saber de quem era a vez de ficar com a bike, mas em pouco tempo quebramos o quadro dela e um vizinho de nome Linel propôs um rolo da cruiser que era quase nova e quebrada, acho que por uma barra circular e uma monareta, ambas muito velhas, mas em bom estado...

Aos 18 anos comprei a primeira bicicleta que pude dizer: minha! Uma Caloi 10 muito acabada, mas fui mexendo nela e melhorando, em pouco tempo descobri que esta bike rendia muito mais no asfalto e aí comecei a puxar uns pedais  mais para Toledo, Terra Roxa e Assis Chateaubriand por terem todo o percurso em asfalto, logo asfaltaram para Francisco Alves e Iporã também, ou seja, meus destinos chegavam à distâncias de 40 ou até 60 km... 

Passei a trabalhar a noite como chapeiro e em um quiosque e usava minhas manhãs para pedalar e as tardes para ir na escola. Em pouco tempo tinha duas Caloi 10, ambas com o quadro recortado para diminuir a distância entre eixos e potencializar o efeito de rolagem em inércia, o que se acreditava na época tornar a bicicleta mais veloz. Por mazelas do subemprego, tive que vender ambas para pagar contas e consegui me estabilizar com uma Mountain bike Monark que usei até detonar totalmente...

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