23 de março de 2013


O biker Vânio teve que aprender a andar de bike 'na marra', quando ainda era criança e aprendeu uma lição para o resto da vida. Depois, usou a bike por vários anos como seu veículo de trabalho e também para seu lazer.

Passou por algumas fases de 'esquecer' a bike, mas, desde 2006, isto mudou radicalmente, quando recomeçou a pedalar e foi ampliando seus limites, já tendo feito várias pedaladas internacionais, inclusive no outro lado do mundo.

Espero que gostem de mais esta história Show de Bike!

CicloAbraços, Biker

ps: São tantas imagens legais, que as incluí fora da cronologia, mas que demonstram como o Vânio é "Gente que Pedala" :)

Bike dobrável em Beijing
Minhas primeiras pedaladas foram meio que “na marra”, com a bike do meu irmão, uma velha Monark, pelas ruas do Rio Fiorita, uma pequena Vila de Mineração no município de Siderópolis, no sul de Santa Catarina. 

Na realidade meu pai me obrigou a aprender a pedalar para ajudar na lida diária, uma vez que tínhamos um armazém de secos e molhados e alguém tinha que fazer as entregas em domicílio. Quem fazia esse serviço era meu irmão mais velho, até que um dia meu pai forçou a barra e me deu um dia para “aprender a andar de bicicleta”.

Iniciei a batalha cedinho, e no meio da manhã já estava pedalando de mãos soltas. Quando achei que estava “bambam”, pedi para meu pai ficar na porta do armazém que eu iria passar ladeira abaixo. Chegando em frente, larguei as mãos do guidão achando que estava arrombando. Voltei para casa imaginando que seriam só elogios, acabei levando um tapa na bunda, e meu pai ainda falou categoricamente:

- “Eu disse para aprender a andar de bicicleta, e não para fazer bossa!”.
Nunca esqueci a lição.

Pedal que fez com a esposa, num giro pelo Uruguai
Assim veio a minha primeira bicicleta, uma Gallo, verde escura, com guidão inteiriço, sem mesa, freio traseiro contra pedal, e dianteiro com um tacão de sola de pneu de automóvel que pressionava diretamente a banda do pneu da bike, ao ser acionado por um manípulo no guidão, acoplado a uma haste metálica, portanto sem cabo. Essa bicicleta foi enviada por um senhor que morava em Siderópolis e havia mudado para Laguna. Como tinha uma dívida com meu pai, para saldá-la, mandou essa bicicleta. Quando fui buscá-la na estação de trem do Rio Fiorita, foi uma festa. Era uma aro 28, mas com quadro tamanho gigante, que me obrigava a pedalar enviesado por baixo do cano superior do quadro à moda das meninas quando pedalavam bicicleta “de homem”.

Após muitos pedais, ou muitas encomendas e entregas, veio o primeiro furo de pneu, juntamente com a primeira decepção: a câmara estava mais cor de rosa do que preta, de tantos remendos. Contei 19. O pessoal da velha guarda lembra, os remendos eram cor de rosa. Cortava-se um pedaço com tesoura e colava-o com cola Michelin, que a gente pronunciava “mixilim”.

Pedalando em Milão
Em 1968 quando cursava o segundo ano do ginásio, ganhei uma Monark Barra Circular, lembro como se fosse hoje o dia em que o caminhão da Transportadora Cresciumense (era assim que se chamava), parou em frente ao armazém. O motorista apresentou a Nota Fiscal da Mesbla de Porto Alegre, com duas bicicletas, uma para o meu primo e outra para mim, ambas equipadas com farol a pilha, uma grande novidade, pois até então só conhecíamos farol acionado a dínamo. A festa foi grande, ele ficou com a vermelha e eu com a azul.

Com essa bike de quadro com tamanho normal, e eu já crescido, pedalei durante o primário, ginásio e o científico, que cursei no Rio Fiorita, em Siderópolis e em Criciúma respectivamente.

Pedalando em Beijing
Na época era costume fazer umas aventuras. As que eu mais gostava eram, atravessar uma pinguela de eucalipto de um pau só, que havia sobre um riacho no potreiro, onde a gente ia tomar banho pelado escondido dos pais, e a outra era pedalar sobre a estrada de ferro, quando íamos com a bike sobre o trilho, firmando uma das mãos no guidão e a outra apoiada no ombro de um colega que pedalava sobre o outro trilho, ambos com o corpo levemente inclinado para manter o equilíbrio. Quando a bike caía, ou na nossa linguagem de moleques, “descarrilava”, dependendo da posição da queda, complicava um pouco a região pélvica, mas nada que impedisse a peripécia.

Em 1974 vim para Florianópolis fazer o vestibular para engenharia, e a bike ficou esquecida.

Monark Super 10 ano 1978
Em 1978 formei-me engenheiro eletricista. Com meu primeiro salário de engenheiro comprei uma Monark Super 10, na extinta Loja Prosdócimo do Estreito. Montei a bike ali mesmo, no depósito, e fui pedalando para casa pela passarela de madeira da Ponte Hercílio Luz, por cujas frestas se via o mar lá embaixo. Saudades daquele visual.
No final dos anos 80, numa de minhas idas a serviço a São Paulo, comprei uma Caloi Aluminum. Presumo que à época era a primeira bicicleta de alumínio fabricada no Brasil.

Com o tempo fui esquecendo a bike até que em 2006, preparando-me para a aposentadoria, reacendeu-se a chama da bike. Iniciei pedalando só no plano, depois fui ensaiando uns morrinhos e hoje não escolho mais chão para pedalar.

Em Pamplona no caminho de Santiago
Desde então fiz vários ciclopasseios, entre eles o Vale dos Vinhedos e Parte Alta do Circuito Vale Europeu com o pessoal do “Caminhos do Sertão”, Urubici e Cânions Fortaleza e Itaimbezinho com o “Floripa Bikers”, além de muitos outros. Mas o que eu gosto mesmo são os ciclopasseios que organizo com meus colegas de pedal, sem pressa e sem stresse.

Nessas andanças já tive a oportunidade de fazer alguns pedais internacionais, entre eles o Caminho de Santiago de Compostela, saindo de Saint Jean Pied de Port na França, perfazendo 854 km em 12 dias, juntamente com dois colegas.

Pedalando em Hangzhou
Além dessa, pedalei na China em Beijing, Shangai e Hanghzou (essa ultima possui 34.000 bicicletas publicas de aluguel), quando estive fazendo um free lancer no ano de 2010. Além de um pedal na Itália numa passagem pelas terras dos meus avós, e os pedais que fiz com minha mulher em 2010 em Colônia do Sacramento no Uruguai, e em 2012 por San Francisco na Califórnia, com direito a travessia da Golden Gate e almoço em Salsalito.

Com esposa em San Francisco California
Para esse ano, além dos ciclopasseios regionais, eu e minha mulher estamos esquematizando o “Caminho da Luz” no primeiro domingo de julho, de Tombos em Minas Gerais até a base do Pico da Bandeira na Divisa com o estado do Espirito Santo, e em setembro, um ciclopasseio pela província da Emilia Romagna na Itália.
Já dizia o poeta: Nada melhor que um ciclopasseio onde se desfruta de um visual cinematográfico que só a bike proporciona. Sendo assim enquanto tiver pernas, vou pedalando.

Vânio J. Savi

16 de março de 2013


O biker Wilian Belmonte sempre gostou muito de pedalar, o que faz desde criança, mesmo tendo parado por um tempo.

Além de usar a bike como meio de transporte, acabou sendo contaminado pelo excelente 'vírus da competição' :), o que fez com que pedalasse ainda mais. Se no início tinha dificuldade em acompanhar um grupo de bikers, hoje são poucos bikers que conseguem acompanhá-lo, pois ele pedala muito forte! :) Fruto de muito treino e também de suas habilidades com a magrela.

Espero que gostem de mais esta história Show de Bike!

CicloAbraços, Biker


Desde pequeno sou louco por bicicletas, era minha brincadeira favorita. Morava numa cidade do interior cm +/- 50 mil habitantes, onde era muito comum o uso delas, tanto para lazer e como transporte pessoal principalmente. Quase 70% da população tinha uma ou mais bikes em casa, o que mais se via nas ruas era bikes com bagageiros de madeira para fazer compras nos mercados, etc. A cidade (São Borja-RS) é totalmente plana, um dos motivos por se usar muito a bike.

Aos 10 ou 11 anos de idade vim morar aqui na Grande Florianópolis, e na época fui obrigado a me desfazer da minha bike, pois quanto menos coisas na mudança, melhor seria. Fui comprar uma bike pra mim só aos 17 anos anos de idade, com o intuito de ir pedalando para o colégio (ensino médio), mas acabei usando ela pra fazer treininhos na Beiramar de São José também, ia e voltava até o fim várias vezes. Como ela custou R$150,00 acabou durando 4 meses só, e daí ficou só na sucata, vendi por R$35,00 a bike (risos).

Passou um ano, concluí o ensino médio e comecei a trabalhar, já com a ideia de juntar grana para comprar uma bike melhorzinha e usar como meio de transporte para o trabalho. E também porque percebia grupos de pedal circulando pela cidade à noite e queria me juntar a turma. Feito isso (comprada a bike) fui estreá-la num pedal, em um grupo de Floripa. Eu achava que era bom no pedal, mas ao andar com eles percebi o quanto eu era ruim. 


Grupo Pedal Continente - Início
Foi aí então que soube que seria formado um novo grupo de pedal aqui pelo continente, não lembro se era 2009 ou 2010, fui no segundo pedal noturno feito por eles e gostei bastante, pois consegui acompanhá-los. No inicio iam 4, 7 ciclistas no máximo por pedal, mas aos poucos cada vez ia ganhando mais adeptos ao pedal noturno. E hoje, esse grupo chamado Pedal Continente é considerado o grupo com o maior número ciclistas da região.


Grupo Pedal Continente
Depois de quase 3 anos usando uma bike de 21 marchas (aquela adquirida com o dinheiro do meu primeiro emprego), em 2012 comprei uma bike melhor, com o intuito de começar a pedalar forte para participar de algumas competições  E assim continuo até hoje, cada vez procurando estar melhor. O que posso dizer sobre a bike na minha vida é que não tem coisa melhor para nossa saúde. Melhorei minha respiração, minhas pernas estão bem fortalecidas e meu coração agradece muito. Quem me conhece sabe (Petry, João Paulo, João Waldemiro)... eu era fininho, mas bem fininho mesmo, minha coxa era um braço (risos). Sem contar com as grandes amizades feitas em nosso meio.

Se você conseguiu ler até aqui, obrigado pela força de vontade! Hehehe. 
Att, Wilian Belmonte.

10 de março de 2013


Parte final do depoimento do biker Luis Antônio S Peters. Aproveitem! :)

Clique aqui para ler a Parte Inicial.

Pitanga e Sandro
Nas frequentes viagens a Floripa a bicicleta se tornou bagagem obrigatória para as pedaladas pela Ilha com o Pitanga e o Sandro. 


Sandro e Eu
(quando ainda usava capacete até para passear)
Quando comprei uma bicicleta antiga de turismo, da famosa marca Batavus, deixei outra permanente aqui. Uma dessas viagens, sem a companhia da Angela, por ela estar visitando a família em Minas, aproveitei para fazer de Batavus. Desci até Joinville nela e lá embarquei num Catarinense até Floripa, sem pagar tarifa adicional alguma e sem nenhum obstáculo pelo motorista.


Ainda em Curitiba, quando fiquei mais em forma e aprendi a controlar o esforço e o suor, passei a ir trabalhar de roupa normal, mesmo praticando um ciclismo veicular ou efetivo. Não sem antes instalar para lamas tradicionais na bicicleta de montanha mais adaptada para uso urbano e comprar uma outra para os passeios de fim de semana. Certa ocasião o principal jornal do Paraná fez uma entrevista comigo por telefone e enviou um fotógrafo para fazer umas fotos. Perdi a chance de pedir ao Antônio as fotos que ele tinha feito, mas acabou saindo uma na primeira página da Gazeta do Povo, eu de terno e bicicleta no meio dos carros e ao lado de um táxi, acho que deu um efeito meio impactante. 


Foto Antonio Costa/Gazeta do Povo
Preparando para sair ao trabalho em Curitiba

Adotei a prática de carregar nos alforjes abrigo contra a chuva, para encarar tal eventualidade sem problemas com a roupa. Esse esquema funcionava bem. Era melhor do que tentar ônibus ou carro, que desencadeavam sensações claustrofóbicas nos congestionamentos e aglomerações.

Em 2010 voltei em definitivo para Florianópolis. Não ando pedalando tanto quanto eu gostaria, como revela o aumento de peso que tive desde então. Mas continuo deixando o carro mais para a saída com a família. 

Não tenho tido muito sucesso nas participações no Audax. Na primeira vez tive problemas com o câmbio, desisti depois do primeiro PC e voltei para casa. No último tive dois pneus furados simultaneamente ali na frente do Centrosul, e como tinha esquecido o kit de remendo, o ânimo de continuar depois de trocar as duas câmaras reduziu-se muito e desisti depois do segundo PC, com receio de ficar pelo caminho.  

Numa pedalada que estava fazendo certo dia encontrei uma ciclista de Balneário Camboriú, que estava participando do Desafio 100 km, pedalando solitariamente pelo caminho. Conversando descobrimos ter vários amigos em comum, em Brasília e em Curitiba, e como eu estava só passeando mesmo resolvi acompanhá-la até o final. A Marisa terminou o desafio com esforço e brilho e isso foi bem gratificante. Quando aconteceu o Audax 400 no segundo semestre de 2012 cumpri o desafio de 150 km numa boa. Cheguei a me inscrever em algumas competições, mas só para confirmar que esse tipo de pedal não está mais ao meu alcance, sem uma preparação adequada, que exigiria uma dedicação  bem maior. 

Gostei muito de fazer o Pedal do Barquinho com o pessoal do Pedal Continente no final do ano, foi muito bonito ver aquele montão de gente pedalando. Também gosto de ir nos Pedalua, pedal da Lua Cheia promovido pela empresa Caminhos do Sertão, que tem um ritmo bem relax. 

Os grupos de pedal estruturados são interessantes, propiciam socialização e segurança pela quantidade e presença nas ruas. Só não tenho tentado me entrosar mais porque ando pedalando num ritmo menos intenso. Mas tenho alguma preocupação com o pessoal que não se liga tanto no aspecto esportivo da bicicleta, e que sofre um bocado nas nossas vias, e alguns ainda são vistos com alguma dose de preconceito pelas mais diversas razões. É preciso diluir esse aspecto e adotar posturas educativas pelo lado positivo e não da recriminação – diferentemente do que se precisa com relação aos motoristas infratores.

Procuro participar das Bicicletadas. Tenho tentado colaborar com a Diretoria e sócios atuantes da Viaciclo, comparecendo às reuniões e assumindo a execução de algumas tarefas específicas. Todos os diretores são voluntários, sem remuneração, e por mais que tenham vontade, não tem condições de dedicar o tempo que seria necessário para um funcionamento com os resultados que desejam. Sinto que necessitam de mais apoio das pessoas interessadas na expansão do uso da bicicleta. Confesso minha admiração pelo trabalho feito pela Viaciclo em Florianópolis, contra todas as dificuldades. Entre estas se acha uma certa desconfiança contra as ONG, como se todas servissem unicamente ao desvio de recursos públicos com fins escusos. Essas são poucas e devidamente escolhidas, as outras precisam lutar contra a falta de recursos e não encontram facilidade para obtê-los com regularidade. Percebo que a atuação da Viaciclo se dá legitimamente em favor do uso da bicicleta em todas as formas – transporte, esporte e lazer – buscando integrar todos os grupos de interesse envolvidos na região metropolitana.

Minha participação é um tanto egoísta: gostaria de contar com ciclovias – no mínimo acostamentos decentes – na Osni Ortiga e na Rodovia Antonio L. M. Gonzaga, e em todas as rodovias urbanas da Ilha, como manda a lei. Gostaria de ter condições para caminhar ou para bicicletar, junto com a Angela, minha esposa, que fossem pelo menos equivalentes às condições que encontro quando saio de carro.

Enquanto esse dia não chega, Pedala Floripa! vamos pedalar, para manter o movimento e o equilíbrio geral!


O depoimento do biker  Luis Antônio S Peters é muito interessante, detalhado e com várias informações importantes para os ciclistas, principalmente quando fala sobre a Viaciclo.

Desde criança pedalando, já pedalou em vários cidades do país e curte muito uma bike. Pedala sozinho, em grupos e ainda é um cicloativista, preocupado com as condições da estrutura cicloviária de Floripa, procura melhorar as condições para todos os bikers, especialmente os da capital catarinense.

Espero que gostem de mais esta história Show de Bike!

CicloAbraços, Biker


Monark Feminina 1960
O meu lance com a bicicleta começou na infância mesmo. Aí por volta dos sete anos juntei-me às minhas duas irmãs, um pouco mais velhas do que eu, para infernizar o pai e convencê-lo a comprar uma bicicleta, naquele grande canteiro de obras que era a Brasília da época. Ganhamos então uma Monark feminina 1960, aro 28, para uso compartilhado. O fato de ser feminina não tinha o menor problema para mim, já que eu não podia ter uma exclusiva. Num tempo em que tudo tinha que ser enquadradinho para os homens e para as mulheres, a possibilidade de pedalar era um atrativo que superava qualquer preconceito. Não me lembro direito se tivemos muitas brigas, mas com a passagem dos meses acabei meio que dominando o uso da bicicleta nas largas ruas de poucos carros da nova cidade em construção. Perdão, maninhas!

Certa ocasião colocaram uns montes de terra numa área próxima da nossa superquadra, que logo viraram uma pista com obstáculos para as competições infantis. O Nelson Piquet era nosso vizinho de quadra e participava sempre, ganhando todas. Acho que não era só porque tinha a melhor bicicleta, com marchas e tals, mas porque já mostrava um pouco da sua capacidade acima da média.

Quando estudei no Colégio Dom Bosco, de padres salesianos, costumávamos nos reunir em pequeno grupo para caminhar umas sete, oito quadras. Pouquíssimas pessoas levavam os filhos para a escola em carro, creio que só fazia isso quem morava mais longe ou então queria se exibir. A oportunidade de caminhar e encontrar colegas pelo caminho era bem adequada para as mais variadas conversas e brincadeiras. Alguns dias combinávamos todos de ir de bicicleta, quando fazíamos umas corridinhas no intervalo em torno da pista de atletismo, convertida num verdadeiro velódromo. Num certo dia combinamos de fazer a volta ao lago. O Lago Paranoá em Brasília é artificial, construído para ajudar um pouco no microclima seco do cerrado, e já tinha uma pista asfaltada que fazia todo o seu contorno, totalizando uns oitenta quilômetros. O movimento de carros era pequeno. Foi uma empreitada enorme para uns garotos e garotas de treze ou quatorze anos, sem nenhuma assistência nas questões técnicas! A minha mãe acabou fazendo um suporte com a Kombi. Foi bom porque tive pneus furados várias vezes (já deviam estar muito gastos ...) e no finalzinho terminei embarcando no “carro de apoio” para completar o trajeto. Agradecido mãezinha! Atualmente há eventos de 100 km que consistem em fazer a Volta ao Lago, reunindo muitos ciclistas. Não cheguei a participar destes, pois já tinha mudado de Brasília quando começaram, mas eles parecem ser muito interessantes e concorridos.

Não tínhamos folga financeira que permitisse a aquisição de uma bici nova, e a manutenção era limitada. Comecei pois a mexer na monark de todo jeito, montava e desmontava partes e peças sempre que necessário. Resolvia de tudo, mas confesso que nunca consegui um bom desempenho no alinhamento das rodas.


Monark Crescent
Comecei a trabalhar com 18 anos, já frequentando universidade, casei aos 22, tive carro, motocicleta, e nessas atribulações da vida deixei de usar tanto a bicicleta. Nunca deixei de ter uma, mesmo não usando tanto. Comprei de um colega de trabalho uma Monark Crescent, do tipo estradeira, usei em alguma medida, mas não me lembro do seu destino. Em Brasília sentimos muito falta de praia, então normalmente as férias são em cidades costeiras, do sul, sudeste ou nordeste. Eram boas ocasiões para tentar andar de bicicleta na praia. 

A retomada de um contato mais íntimo se deu em Curitiba, para onde me transferi em 2005, a fim de ficar mais próximo de Florianópolis, onde já temos casa desde 2001.

Estabeleci um projeto de parar de fumar pela segunda vez, logo sabia que durante uma onda de desejo é preciso ter alguma atividade física, que ajude a passar esse momento. Escolhi a bicicleta, por conjugar várias possibilidades e propriedades. Transporte, exercício, diversão. Os primeiros dias foram exaustivos, apenas cinco quilômetros e o esgotamento aconteceu algumas vezes. Nem dava para ser de uso diário, foi preciso alternar, carro, caminhada, ônibus, bicicleta. Curitiba tem partes planas, mas tem partes com relevo bem acidentado. Já na saída do prédio em que morava precisava encarar uma ladeira apreciável, subia o equivalente a três andares numa distância de três prédios. Um pouco de academia durante todo o tempo auxiliou bastante. Aos pouquinhos fui pegando o jeito, com pedalada nos parques no final de semana, buscando caminhos alternativos. Fui também adquirindo o equipamento de “ciclista”, bermuda, camiseta, capacete. Tinha possibilidade de tomar banho no trabalho, era uma maravilha. Algumas vezes fazia voltas grandes para ir e depois para voltar. 


Foto Roberto Assumpção:
Peters, Silas, Romualdo, Roberto e Sérgio.
Algo que me ajudou a entrar em forma foi a Turma dos Velhinhos, um pessoal de mais idade que pedala no domingo pelos arredores de Curitiba. E como pedala. Uma certa semana o Carlos Renato Fernandes me chamou para descer a Serra da Graciosa, em comemoração aos 80 anos do Pepe. No sábado lá fomos nós pela BR do Contorno Leste e Régis Bitencourt para acessar a rodovia que vai até Morretes, com filmagem da RPC e tudo. Pedalamos com o Pepe o caminho de ida todo, 90 km bem puxados. Creio que muitos amigos “velhinhos” continuam pedalando pela capital paranaense. Romualdo, Cândido, Nelson, Afonso, Nascimento, Kátia, Dóris, todos que não tenho como citar, queridos amigos, um abraço, obrigado a vocês por tudo! (Rá rá rá, soube que o Nascimento agora alcançou a patente de “Capitão” e comanda um dos pedais mais puxados da cidade).

Clique aqui para ler a Parte Final deste ótimo depoimento.

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