13 de julho de 2013

Ainda não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a Thais Suzana, mas, através do depoimento dela, pude perceber como ela é guerreira e determinada, tendo a vida mudada após adotar a bicicleta como meio de transporte, inclusive pedalando longas distâncias junto com seu "Biker Anjo", curtindo o cicloturismo e tudo o que ele proporciona. Pelas lindas fotos presentes no depoimento, pode-se perceber porque ela curte tanto cicloviagens.

Pelo fato de ser mulher, chegou a ser desafiada e encarou o desafio! Hoje procura, sempre que possível, colaborar para que o trânsito seja mais seguro.

Vale à pena ler este depoimento Show de Bike

CicloAbraços, Biker



Nasci e cresci em uma cidade pequena, o que me deu a oportunidade de aprender a andar de bicicleta muito cedo. Depois, a bicicleta se tornou o meio de transporte para ir do sítio à escola, que ficava na cidade. A cidade plana, com ruas largas e poucos carros até hoje é ótima para pedalar, inclusive para as crianças. Durante a infância, os estradões, o cascalho e a lama de terra vermelha renderam muitos tombos e também muita diversão.

Com 17 anos me mudei para Florianópolis para cursar Letras Inglês e acho que nem pensei em levar a bicicleta. Pra quem sempre morou em uma cidade pequena, era difícil até caminhar no centro e me lembro de até me perder na UFSC nos primeiros dias de aula. No último ano da graduação me casei com o Geovane Krüger e nos mudamos para o Campeche. Em um bairro mais tranquilo, a vontade de pedalar foi voltando e compramos as bicicletas logo depois, mas sem muita pretensão. No começo pedalávamos em ruas dos condomínios do bairro e em ruas mais tranquilas para evitar o contato com os motorizados.

Contudo, a paixão pela bicicleta foi aumentando e os passeios também. O Geovane começou a ir para a UFSC de bicicleta, mas nunca pensei que teria o condicionamento para fazer o mesmo. No entanto, depois de ouvir de um vizinho que eu não conseguiria ir pelo simples fato de ser mulher, o sangue ferveu e eu aceitei o desafio. A primeira vez em que pedalei na SC-405 o trajeto estava em obras, devido à construção da terceira pista, e nem preciso dizer qual foi a sensação. Mas a sensação de conseguir ir e voltar foi muito mais gratificante e passei a ir de bicicleta para a universidade uma vez por semana, aumentando a frequência aos poucos, sempre acompanhada do Geovane, que foi e ainda é o meu Bike Anjo, até não ter mais paciência para andar de ônibus e ter o condicionamento e as noções necessárias para fazer o trajeto sozinha todos os dias. Também começamos a pedalar nos finais de semana pelo sul da ilha e durante esses passeios conhecemos vários lugares e fizemos várias amizades.

Na Caieira da Barra do Sul

É incrível como a bicicleta une as pessoas e como aprendemos mais sobre nós mesmos e sobre o mundo em cada pedalada.
Sertão do Ribeirão, com Augusto, nosso primeiro companheiro de pedal.

A vontade de ir mais longe é um dos sintomas dos doentes pela bicicleta e nosso próximo passo foi usá-la para viajar. Bem, mais ou menos isso. Tivemos mais sorte que juízo ao convidar um amigo que tinha muito mais experiência no pedal e a sua esposa que nos acompanhou de carro na ida à Rancho Queimado (pelo interior). No trajeto de 90km, muita estrada de chão e muita subida. Acho que ainda não estava preparada, pois da metade do percurso em diante o corpo inteiro gritava de dor. Quando faltavam 10km para chegar ao nosso destino fui resgatada pela Teca, no carro de apoio. Fiquei frustrada por não conseguir completar o percurso, o que só serviu de combustível para ir mais longe. Nossa próxima viagem foi à Anitápolis, com direito a passagem pela Serra da Garganta na volta. Dessa vez cheguei inteira e curti muito todo o passeio.

Na ida para Anitápolis, com Markus e Rafael. Foto de Geovane Krüger.

Volta para Florianópolis com Teca, Markus, Geovane e Rafael, na Pousada Pasárgada
Na Serra da Garganta

Em novembro de 2012 participei da primeira competição de mountain bike, o III Mountain Bike São Pedro de Alcântara. Fiquei surpresa ao perceber que também tenho ‘sangue nos olhos’ e que competir é muito divertido. Ainda tenho muito a aprender nesse aspecto e agradeço muito ao Markus, o nosso mestre nas dicas ciclísticas, e à Teca, nosso apoio. Esses dois nos carregam pra todos os lados e sem eles não teríamos tido tantas oportunidades. Obrigada amigos!

2º lugar na Elite Feminina - III Mountain Bike São Pedro de Alcântara

Os pedais continuaram girando e no fim de 2012 eu e o Geovane decidimos encarar mais um desafio.

Depois de muito planejamento, saímos de Florianópolis no dia 23 de dezembro rumo a nossa cidade natal, Maripá/PR, lááá no extremo oeste. Essa viagem só foi possível graças ao apoio de nossos queridos amigos, que nos emprestaram barraca, GPS, colchonete e que nos deram repelente, barra de cereal, protetor solar e dicas valiosas. Pensando bem, acho que a gente só tinha as bicicletas e a coragem mesmo. Foram quatorze dias na estrada, sendo que a maior parte do nosso trajeto (1113km) foi em estrada de chão. Nesse tempo passamos por todo tipo de chão, clima, gente, paisagem e poeira. Acampamos, dormimos no quartel dos bombeiros, em posto de gasolina, em hotel, em casa de parentes, em casa de outros cicloturistas. Fomos acolhidos em pleno réveillon por um casal de desconhecidos que nos ofereceu um verdadeiro banquete, o sonho de qualquer cicloturista. Nos divertimos pra caramba e tivemos as melhores férias de nossas vidas. A partir daí ficou estabelecido que ao menos uma vez por ano faríamos uma cicloviagem mais longa.

Amanhecer em Ilhota, no segundo dia de viagem, no local onde acampamos.

Em Schröeder, na Serra para Campo Alegre.

Nas Fendas da Colônia Witmarsum/Palmeira – PR.
Passeio guiado pelo Ricardo, cicloturista que conhecemos através da rede Warm Showers.

Em Prudentópolis – PR

Em Toledo – PR, próximo ao nosso destino.

Em maio fizemos outra viagem com nosso amigo Rafael, dessa vez saímos de Tubarão, passamos por Urussanga, Serra do Rio do Rastro, Orleans e voltamos à Tubarão. No percurso, vinho, carvão, serra e natureza.

Em Tubarão.

Carvão em Urussanga.

Nem preciso dizer que a bicicleta mudou a minha vida. Através dela conheci pessoas maravilhosas que ocupam um lugar muito especial no meu coração. Conheci também o meu lado aventureiro e guerreiro. Conheci lugares lindos que nunca imaginei que veria. Minha saúde melhorou significativamente.

É por tudo isso que hoje luto por uma cidade mais humana, onde as pessoas possam pedalar sem medo e ter experiências maravilhosas. A Bicicletada, o Bike Anjo e a ViaCiclo foram os meios que encontrei para contribuir com a galera que já vem lutando pela bicicleta há muito tempo. Ainda anseio pelo dia em que não precisarei me preocupar se o meu marido ou os meus amigos vão chegar bem de um pedal devido à violência no trânsito e à falta de infraestrutura. Paralelamente à luta, vamos planejando a próxima viagem...

Quem pedala tem tanta história, vê tanta coisa e conhece tanta gente que fica difícil resumir, mas espero que esse longo relato incentive outras pessoas e principalmente as mulheres a incluírem a bicicleta em suas vidas, pois ainda somos levadas a acreditar que nos falta força e habilidade. No entanto, é tudo uma questão de força de vontade e confiança.

Agradeço a oportunidade de contar um pouco da minha história e deixo um abraço a todos os amigos do pedal :).

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