22 de abril de 2013



A história do biker Vinícius com a bicicleta começou cedo! 

Com poucos anos ele aprendeu que uma bike poderia levá-lo para qualquer lugar. Gostava de correr e até tentou participar de equipes de ciclismo, mas infelizmente não conseguiu. Morou e pedalou no exterior e percebeu as grandes diferenças existentes na infra estrutura ciclística existente por lá e aqui. Mesmo tendo alguns acidentes que poderiam até ter sido fatais, atualmente é um Biker Anjo e um entusiasta no que se refere à bicicleta como meio de transporte, esporte e turismo.

Um depoimento muito legal e até com revelação que nem seus pais sabem.

Espero que gostem de mais esta história Show de Bike!

CicloAbraços, Biker


Minha história com a bicicleta começou quando ainda era criança. Não sei dizer exatamente quando, acho que simplesmente sempre pedalei, ou quase isso. Apesar de ter sido criado dentro de um apartamento, tive a sorte e o prazer de ter uma praça em frente ao prédio e o campus da UFSC no outro lado da rua. Então meu lazer de final de semana (e muitas vezes de dia de semana também) sempre foi só atravessar a rua e desfrutar de uma área imensa livre de carros, plenamente arborizada e recheada de caminhos secretos por entre os prédios da universidade.

Pedalando com minha irmã na UFSC, na época em que havia um bosque de eucaliptos
Não lembro da minha primeira bicicleta, mas lembro que lá pelos 6 anos tirei as rodinhas e que minha estratégia pra manter o equilíbrio era pedalar rápido. Pedalava numa reta, ia até o fim, parava, fazia meia volta a pé, pedalava rápido de novo. Me divertia horrores. Mas eu queria mesmo era me aventurar no terreno acidentado, andar na terra, descer escada, etc. Ao longo dos anos me especializei em conseguir descer por onde sequer se consegue subir, obviamente resultando em incontáveis tombos. Entre escorregões leves e quedas pesadas gerei cicatrizes que vou carregar pra sempre no meu corpo, embora não me lembre da história de todas. Apesar disso, não sei bem como, nunca quebrei um osso.

Outra grande sorte que tive é que a ciclovia da Beiramar tem seu início/fim exatamente no campus da UFSC. Assim, comecei a explorar a cidade "inteira" logo depois de aprender a manter o equilíbrio na bicicleta. Ia até o CIC direto, mas parava na rótula porque tinha medo de atravessar. Devia ter uns 10 anos na primeira vez que fui pedalando até a ponte Hercílio Luz com uma bicicleta monomarcha que era bem maior do que eu devia usar. Depois daquele dia, minha relação com a cidade mudou pra sempre. Cansei um montão, mas descobri que de bicicleta você chega onde quiser.

Aos 11 anos fui morar em Oxford, na Inglaterra. Fiquei 1 ano lá, sem bicicleta, apesar de ter infernizado minha mãe pra comprar uma. Eu ia de ônibus pra escola e via uma ciclovia imensa no caminho, sempre lotada de adultos e crianças que pedalavam mesmo no inverno. Na escola tinha um bicicletário enorme, sempre lotado, e aquilo me maravilhava. Eu comparava com meu colégio no Brasil, que não tinha qualquer estrutura pra bicicletas, e acho que foi o começo dos meus questionamentos culturais sobre a bicicleta.

Quando voltei pra Floripa ganhei uma Sundown "Shimanimal", AUTAS bicicleta pra época. Roubaram em menos de um mês, dentro do meu prédio. Aí ganhei outra, mais genérica, mas era mais que suficiente pra mim. Eu tinha aulas de inglês no centro e ia pedalando, o que deixava todos na escola boquiabertos mas pra mim já era algo comum. Eu também ia pro colégio com ela, a 1km de casa, em 4 minutos, em vez dos 20-30 minutos de quando meu pai me levava de carona. E aí foi nessa época que, por uma questão puramente prática e sem ideologias ativistas, nunca mais quis saber de carro nem de ônibus: a bicicleta virou meu meio de transporte oficial. Era divertido, prático, me fez nunca depender de ônibus nem de carona, e eu ainda me achava um atleta.

Mais uma boa sorte que tive foi um vizinho amigo, da mesma idade que eu, e que pedalava tanto quanto eu. Sempre foi minha parceria pra pedalar na UFSC, na Beiramar, e juntos começamos a explorar o resto da cidade. Lá pelos 13 anos resolvemos encarar o morro da lagoa, e me lembro até hoje da sensação de desespero no meio daquela subida com trânsito intenso, no sol de uma tarde de verão, sem água. Chegamos no topo exaustos, mas felizes. E na descida descobrimos o prazer da velocidade que uma bicicleta pode atingir. Pronto, virei um maníaco por altas velocidades! Com 13 anos eu já descia aquilo a mais de 60km/h (eu não tinha caramanhola mas já tinha um velocímetro hahaha), com uma bicicleta que hoje eu consideraria completamente inapropriada pra isso. Que bom que não aconteceu nada né? Mais ou menos...

Donatta - Fazendo graça na praça com um amigo
No dia 7 de setembro de 1999, aos recém 14 anos, tive o pior acidente da minha vida. Não sei como não morri nem tive maiores sequelas. Era feriado, um puta dia de sol, e o trânsito em direção às praias era intenso mas no sentido contrário estava vazio. Nesse dia resolvi pedalar sozinho, e na descida do Morro da Lagoa resolvi aproveitar a pista livre pra forçar a velocidade. Até que, na segunda curva pra esquerda, um cidadão muito sem noção estava ultrapassando pela contramão e pelo lado de fora da curva na subida. Não sei bem o que aconteceu, só lembro de ver o carro e depois estar voando alto pensando se era melhor tentar dar uma cambalhota ou cair de frente. Lembro que a porrada no chão foi de uma força inacreditável e que no mesmo instante eu aceitei o fato de que ia morrer. Capotei por uns 30m e, BIZARRAMENTE, terminei de rolar correndo a pé. Imediatamente recolhi a bicicleta do meio da pista, toda torta, sentei no acostamento e só então comecei a analisar o que tinha acontecido. Roupas rasgadas, sangue pra todo lado, pedaços de pele pendurados, e NINGUÉM parou pra me ajudar. Com a adrenalina eu não sentia dor, e resolvi ir caminhando até uma clínica de emergência que havia no Santa Mônica. Só quando cheguei lá e me seguraram pelo braço é que relaxei, e aí sim desmaiei. Se na hora não doeu nada, o que veio a seguir foi a maior dor que eu já senti: 2 enfermeiras me seguravam dentro de um tanque e uma terceira limpava meus ferimentos com gaze, soro e pinça pra tirar as pedrinhas.

Eu na praça em frente ao meu prédio com a bicicleta que foi destruída
Na época eu não usava capacete nem luvas, e me espanto até hoje pelo fato de não ter sequelas nem ter quebrado nada. Minha bicicleta, no entanto, foi pro lixo. E o engraçado é que minha maior preocupação era com o esporro que eu ia levar em casa. O principal detalhe dessa história é que eu nunca contei aos meus pais o que realmente aconteceu, pois se soubessem jamais me permitiriam pedalar de novo. Pra eles, contei que estava descendo um outro morro bem menor e que um cachorro havia se atravessado na minha frente. Como eles não viram o estado inicial dos meus machucados, só viram depois quando já estavam +- limpos e sem aquele sangue todo e sem pedaços de pele pendurados, eles acabaram aceitando a história. Mas tenho quase certeza de que eles não realmente acreditavam na minha versão dos fatos. Se eles lerem isso, quase 15 anos depois, é a hora da verdade! haha

Mas em vez de ficar com medo da bicicleta, acabei ganhando muito mais confiança e respeito ao meu corpo. Afinal, se eu tinha sobrevivido sem sequelas a um acidente desses, não havia muito mais o que temer, e também jamais me exporia de novo a um perigo desses (ahm... mentira). Alguns meses depois ganhei uma Caloi Aspen 21v, a "Donatta", e comecei a pedalar mais e mais. Eu pedalava mais pelo esporte do que pelo transporte, o deslocamento urbano era apenas a desculpa pra "treinar": eu queria ser atleta! Era fascinado pelo Tour de France, pelas bicicletas de estrada, pelas roupas coloridas. Acompanhava fervorosamente ao vivo pela tv as memoráveis batalhas entre Lance Armstrong, Jan Ullrich e Marco Pantani. Aos 15 anos eu já ia pra Lagoa, Canasvieiras, Morro das Pedras, Ribeirão. Fazia contra relógios da UFSC ao aeroporto em 20 minutos, coisa que hoje mal consigo fazer. Comecei a explorar trilhas e descobrir lugares maravilhosos da ilha. Comecei a me interessar pelo ciclismo esportivo, e queria muito fazer parte da tal equipe do Avaí. Eu pedalava loucamente mas não tinha uma bicicleta boa e portanto nunca de fato competi. Eu não carregava nem câmara reserva, sequer sabia remendar uma câmara. Na maior parte do tempo não usava capacete, nem luvas, nem roupas de ciclismo. Queria correr, só isso. Um dia me aventurei numa prova de mtb em Porto Belo, e apesar de ter a pior bicicleta, completamente inadequada pro circuito, fiquei em 8º lugar de 14 competidores! Na verdade eu fui o último, mas o resto abandonou a prova hahaha. Pelo menos eu fui até o fim =)

[FOTO 4 - Fazendo mais do que devia com a Donatta]


Quando fiz 16 anos fui morar em Hamburgo, na Alemanha. Enquanto aqui eu era metido a atleta e conhecido no colégio como "o da bicicleta", na Alemanha pedalar é simplesmente normal. Tão normal que se você não tem uma bicicleta aí é que te olham estranho. Lá vivi plenamente a cultura de pedalar no dia a dia sem ser tirado pra maluco ou atleta. Lá nem tem muita ciclovia, e as que tem são bem diferentes das daqui, sendo muitas vezes apenas uma faixa preta na calçada indicando onde os ciclistas devem transitar, e tem muitos parques por onde é possível cortar caminho. A maior diferença é que os motoristas simplesmente te respeitam onde a rua é compartilhada, você pode prender a bike em qualquer lugar, pode embarcar com a bicicleta no metrô. E aí, de forma muito simples, todos se entendem e se respeitam e tudo funciona muito bem. As ruas e calçadas largas são por causa da reconstrução da cidade depois da 2a Guerra Mundial, mas a parte do respeito é pura educação!

Quando cheguei lá ganhei uma bicicleta urbana, com guidão borboleta e pneus 700, algo completamente alienígena pra mim. Mas roubaram na segunda semana ¬¬. Ganhei outra, uma dessas full suspension genéricas que se compra em supermercado: lá uma bike dessas vem com Deore LX e não existem peças de plástico. Pesava 20kg e a suspensão mais atrapalhava que ajudava, mas era uma delícia. Enfim, pedalei pro colégio, pra aula de alemão, pra festas, pra shows, pra visitar os amigos, pros bairros afastados, pras cidades vizinhas, no sol, na chuva, na neve, no calor, de dia, de noite, de madrugada. Tive 2 tombinhos memoráveis: Um foi no outono, quando aprendi da pior forma possível que existe gelo invisível no asfalto e fui reto numa curva, só não me machuquei porque tava cheio de roupa. O segundo tombo foi na primavera seguinte: comprei uma sapatilha e um pedal, que são realmente baratos por lá, e saí feliz da vida pedalando clipado. Até que cheguei na porta de casa e... pof. Um clássico na história das sapatilhas.

Fazendo graça na Alemanha

Para ler a parte final do depoimento, clique aqui.

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